Workshop de cozinha vegetariana com e para crianças – uma experiência bonita

Estou a dever-vos uma história bonita do ano que passou. Em plena pandemia, com o verão a começar – mais propriamente no dia 29 de julho – juntei-me a várias crianças para partilhar um almoço totalmente vegetal. Com a minha orientação e ajuda executamos um menu diversificado, saudável e muito saboroso. Aconteceu poucos meses depois da primeira vaga. Não foi fácil. Estávamos todos receosos, mas o entusiasmo era grande e, felizmente, graças a muita etiqueta respiratória, correu tudo bem.

Este workshop de cozinha vegetariana com e para crianças deu-se a convite da Dra. Teresa Branquinho, responsável pela Biblioteca Municipal de Mortágua. A Dra. Teresa é amiga da Dra. Lisete Cipriano, também responsável por uma biblioteca, desta feita a Biblioteca Municipal de Ílhavo (BMI). Ambas têm nas suas mãos belíssimos espaços de degustação de letras e ilustrações. Amplos e muito luminosos. Se tiverem oportunidade visitem, pois, para além da arquitetura, estarão a braços com programas culturais muito bem engendrados a pensar no leitor. Mas voltando à história, a Dra. Teresa e a Dra. Lisete são mulheres fáceis de gostar. Há pessoas para todos os gostos. Umas de quem não conseguimos gostar, outras assim-assim e outras com tão boa energia que em poucos minutos nos sentimos em casa. E foi o que aconteceu, com as duas. Quando conheci a Dra. Lisete ainda não atravessávamos uma pandemia e, depois de muito conversar, rir e partilhar, foi simples e bom abraçar. Depois, em fins de julho de 2020 havia a regra que as circunstâncias exigiam, mas isso não impediu que eu e a Dra. Teresa nos abraçássemos de fugida na despedida. No contexto em que vivemos é dos abraços que sinto mais falta…

A Dra. Lisete, amiga de longa data da Dra. Teresa, foi quem sugeriu o meu nome. Já tinha feito em 2019 um workshop de doces e sobremesas de Natal sem açúcar para adultos na BMI e a Dra. Lisete fora o meu braço direito. Uma tarde muito bem passada, sem dúvida. Logo nesse dia ouvi o nome da amiga Teresa pela primeira vez. A Dra. Lisete disse-me que tinha uma amiga que estava animadíssima com a ideia de eu lá ir fazer um workshop e eu ainda nem tinha começado a fazer o meu brilharete. A energia e o entusiasmo foram contagiosos. Quando a Dra. Teresa me ligou comecei a imaginar o menu de imediato. Decidimos que a idade dos mini cozinheiros poderia ser dos 6 anos até aos 12 – era importante que tivessem algum à vontade na cozinha e que o uso de uma faca (afiada) não lhes fosse totalmente estranho – mas, como ainda não era certo a que tipo de equipamento eu iria ter acesso, pouco mais pudemos adiantar. Sabíamos que era essencial fazer algo 100% vegetal, que fosse de rápida execução, saudável e agradasse a miúdos. O desafio era grande.

Trocamos vários telefonemas super animados. A Dra. Teresa é imensamente empolgada e passou-me essa energia com facilidade. De chamada em chamada a fasquia foi subindo. De um workshop simples numa biblioteca em que «se calhar pode levar quase tudo pronto e no momento só junta os ingredientes e fala com os meninos sobre a sua alimentação», passou para «temos um restaurante amigo que nos pode emprestar um forno – se precisar de mais do que um diga – e a bancada da cozinha com fogão».

Foi absolutamente espetacular. Quando saio para a casa dos outros, independentemente de ir com roupa de ilustradora ou de cozinheira, já estou à espera de alguma dificuldade, ou porque não há um material específico que pedi ou porque não há aquele equipamento essencial e tudo bem. O improviso é muitas vezes motivo de diversão e ajuda-nos a sair fora da caixa em busca da melhor solução. Nesta casa, uma biblioteca, é preciso relembrar, eu tive um forno mil vezes melhor do que o meu, uma bancada de trabalho comprida com fogão incorporado, vários braços para me ajudar e muitos sorrisos curiosos. É caso para dizer, nunca imaginei que fosse possível. Toda a equipa foi simpaticíssima. As crianças conseguiram gerir bastante bem o distanciamento físico (possível) e as novas regras na cozinha.

Tudo começou com uma visita ao Mercado Municipal para comprarmos os ingredientes frescos. Achei esta sugestão da Dra. Teresa muito pertinente e pedagógica. De seguida regressamos à cozinha improvisada da biblioteca e arregaçamos as mangas.

A muitas mãos, preparamos duas entradas, uma sopa, um prato principal e uma sobremesa. Para a entrada fizemos hummus para comer com palitos de cenoura e bolinhas de vegetais no forno. A sopa de ervilhas fez imenso, contrariando a ideia comum de que as crianças não gostam de sopa. Quem é que adivinhava que com comensais até aos 12 anos a sopa iria ser o prato mais apreciado?! Eu também gostava de ter repetido! A refeição principal teve hambúrguer de grão-de-bico no forno em pão pitta com salada ao molho de caju. Rematamos com uma sobremesa deliciosa toda feita com fruta: mousse de framboesa em tacinha gelada.

hummus com cara de coronavírus
hummus com cara de coronavírus
bolinhas de vegetais (que de bolinhas não têm nada)
bolinhas de vegetais (que de bolinhas não têm nada)
burguer de grão-de-bico no forno em pão pitta com salada ao molho de caju
burguer de grão-de-bico no forno em pão pitta com salada ao molho de caju

Há toda uma série de constrangimentos em cozinhar para 15 pessoas, principalmente num ambiente que não é o nosso. Mas com boa energia, entreajuda e satisfação tudo se fez.

Este workshop de cozinha vegetariana com e para crianças foi uma experiência muito positiva.

Os participantes, que esgotaram as inscrições, descascaram cenouras, esmagaram bananas, descascaram e cortaram dentes de alho – acho que foi a tarefa que mais gostaram – moldaram as bolinhas de vegetais – que de bolinhas não tinham nada – e enformaram os hambúrgueres. Tudo isto enquanto faziam perguntas sobre a minha alimentação, que exclui todos os alimentos de origem animal. Tudo o que como e que ajudei a confecionar no workshop de cozinha vegetariana daquela manhã vem das plantas. É importante desmistificar e sublinhar que não só é possível viver com uma dieta à base de plantas como traz benefícios para a saúde, ajuda o planeta e salva vidas de inúmeros animais. O veganismo não é o futuro, é o presente!

Só aguardamos que a pandemia dê tréguas para fazermos mais crianças e adultos felizes.

Escrevam-me, vamos cAMinhAR juntos.

Vejam as notícias do município de Mortágua nos recortes de jornais que vos deixo e também no site do Município de Mortágua.

diário As beiras
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jornal Defesa da Beira
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Maria
Maria
14 de Fevereiro, 2021 18:26

Deve ter sido muito giro, este workshop. Os miúdos adoram ajudar e aprender coisas novas. Semear para colher. Parabéns.

amarpordois
Admin
16 de Fevereiro, 2021 21:18

Obrigada, Maria. Foi muito giro, sim. Muita adrenalina para ter a certeza que todos comiam em simultâneo, mas também divertido. Já dizia ‘o outro’ que é de pequenino que se começa. Beijinhos