Os ovos das galinhas da vizinha também não são para comer

Muitas pessoas têm empatia pelo sofrimento das galinhas poedeiras e, por essa razão, iludidas pela propaganda enganosa, optam por comprar ovos de galinhas livres. Aliviam um pouco a consciência e consomem os ovos da galinha. Neste contexto, a palavra livre é, para muitos, sinónimo de ar livre, chão de terra com alguma relva e ou vegetação e muito, mesmo muito espaço. Mas não. A legislação é omissa neste detalhe tão importante e as galinhas podem ser livres por apenas 5 minutos por dia (isto se a meteorologia o permitir), sem qualquer espaço, terra ou vegetação. São muitos os casos relatados de aviários cuja zona de ar livre é apenas um local igual ao que a galinha conhece, só que sem teto, digamos assim. Sem qualquer condição de salubridade. Friso que as galinhas, de criação ou poedeiras, vivem em espaços onde, muitas vezes, nem as asas conseguem abrir, sem terra para bicarem como gostam de fazer, nem espaço para correr, muito menos sol para sentirem a vida como devia ser. Muitas vivem nesses espaços com luz artificial por 18h seguidas, para que o seu organismo seja forçado a produzir mais ovos. Neste tipo de confinamento, em espaços tão restritos, com o stress que isso lhes gera, em vez de bicar a terra, são inúmeras as vezes que se viram umas contra as outras e se magoam no processo. Para minimizar as consequências desse comportamento os seus bicos são raspados ou cortados desde tenra idade.

Já viram patos e pombas num qualquer parque a tomar banho? A usarem o seu bico para ajeitar as penas e para retirar algum lixo que possa estar preso na pelagem? Pois é, as galinhas também gostam de fazer isso, só que nestes contextos e com o bico mutilado não conseguem. Por vezes, até deixam de conseguir alimentar-se direito. As galinhas brincam umas com as outras e até com humanos. Já vi brincarem às escondidas, a pegar em coisas do chão para mostrar ao humano que está por perto… Adoram festinhas na pelagem, estar no colo de alguém… Elas podem viver saudáveis, brincalhonas e ativas até aos 15 anos. Sabias? Prepara-te: As galinhas de criação são abatidas ainda bebés, às 6 semanas de vida. Nem dá para acreditar, não é? A maioria só conhece gaiolas metálicas, pouco ou nenhum ar livre e muita tortura.

Das coisas que mais me impressionou quando me inteirei desta realidade foi a seleção entre machos e fêmeas que acontece com 1 dia de vida. O ser humano tem forma de se proteger de informações menos simpáticas ignorando os sinais que se acumulam em seu redor. As minhas tias tinham galinhas… quando eu era menina convivi com muitas que corriam pelo campo fora e brincavam de corridas… eu nunca me questionei porque é que só havia um galo, um só. Agora sei que selecionam o género e trituram os machos. Sim, trituram os bebés indefesos vivos, para com eles fazerem ração para galinhas ou outros animais. Um horror. Mas já me incomodava que a minha tia lhes raspasse os bicos na parede, dizia ela que era para elas não bicarem os ovos. Era ver o sangue a reluzir no pelo branquinho das suas barrigas. Lembro-me de gritar com a minha tia por fazer aquilo… Hoje sei que as galinhas bicam os seus próprios ovos em busca de cálcio, por exemplo, entre outros nutrientes essenciais à sua saúde e bem-estar. Sem recorrer a outros alimentos ou outros animais conseguem ser autossuficientes ingerindo os seus ovos. Outros ovos são escolhidos ou guardados para chocar e assim aumentar a família.

Alguns, que já sabem todas estas informações que reuni nesta partilha, dizem do alto dos seus pulmões, «mas eu só consumo ovos das galinhas da minha família, ou do vizinho, que tem galinhas livres». Estes vizinhos ou tia como a minha, muitas vezes fazem o que a minha fazia aos bicos das galinhas, apesar de por vezes lhes darem nomes queridos e até sorrirem quando as veem aprontar alguma no quintal. Os ovos, das galinhas dos vizinhos, da tia ou do supermercado, são das galinhas. São delas porque os geraram, são delas porque precisam deles para obter nutrientes específicos e são delas porque são delas! Não importa se elas não os usam para nada, se os comem ou se os chocam. Só importa que nós não temos direito de posse sobre eles. Felizmente, já são muitos os que conseguem sentir e ver esta realidade como ela é evitando a todo o custo o consumo de ovos. O veganismo está a crescer.

A ti que caíste aqui de para-quedas, tenta deixar de consumir ovos em algumas coisas. Por exemplo, ao contrário do que se julga, não é preciso ovos para fazer bolos maravilhosos. Esse passo já era bonito de se dar. No blogue há receitas de doces sem ovos e em vários outros sítios pelas redes sociais. Experimenta! Confio em ti. Vais ver como te vais sentir mais leve e até mais saudável por deixares os ovos de lado. Mas isto da saúde era outro post igualmente longo e importante. Ficará para outro dia, com certeza.

O tema para este post surgiu após a LIVE #51 com o Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, em que ele contou como é que aborda a questão do consumo de ovos com um não vegetariano estrito. No vídeo em baixo podem ver e ouvir de que forma ele trata este assunto, sempre tentando cativar quem o ouve ao invés de afastar com imposições.

Por agora, deixemos as galinhas de facto serem livres, livres de nós e dos nossos desejos egoístas.

Espero que te tenha inspirado a fazer mudanças.

Beijinhos,

Gabriela

Vídeo

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